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[Tradução: Daniel M. Alves. Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho. Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]
(p. 11) (*)
Capítulo V
Sobre a Interpretação das Escrituras
Místicas
Parte I (1)
1.
(**)
“Se são, portanto, Livros Místicos, também deve-se aplicar a eles uma
Interpretação Mística. Mas a falha de muitos escritores reside nisto – eles não fazem
distinção entre os Livros de Moisés o Profeta, e aqueles Livros que são de
natureza histórica. E isso é ainda mais surpreendente, porque não são poucos
desses
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críticos que discerniram corretamente o caráter esotérico (interno), senão, de fato, a verdadeira interpretação da história do Éden; embora não tenham
aplicado ao restante da alegoria o Método que acharam adequado para o começo; mas, tão logo eles vão além dos primeiros versículos do poema, tomam o
restante dele como sendo de outra natureza.
2. “É, então, muito bem estabelecido e aceito pela maioria dos autores que a lenda de Adão e Eva – e da
Árvore Miraculosa e do Fruto que foi a causa do Surgimento da Morte – é uma parábola com um significado oculto, isto é, um significado místico, tal como a história de Eros e
Psique e tantas outras de todas as religiões. Mas isso também ocorre com a lenda, que vem em seguida,
sobre os Filhos desses Místicos Pais, a História de Caim e seu Irmão Abel, a do
Dilúvio, da Arca, do salvamento dos Animais puros e impuros, do Arco-íris, a dos
doze filhos de Jacó e, não parando aí, de todo o relato do Êxodo do Egito. Assim
sendo, não se deve supor que os dois sacrifícios oferecidos a Deus pelos Filhos de Adão eram sacrifícios reais, tal como não se
deve supor que a maçã que causou a Condenação da Humanidade era uma maçã de verdade.
“Em verdade, para o correto entendimento dos Livros Místicos, deve-se ter em mente que em seu sentido esotérico (interno)
eles não tratam de coisas materiais, mas de realidades espirituais. E que do mesmo modo que Adão não é um homem, nem Eva uma mulher, nem a Árvore uma planta em seus verdadeiros significados, assim também não são os animais mencionados nesses Livros, animais de fato, mas é a interpretação mística desses que está sendo
usada.
“Quando, portanto, está escrito que Abel pegou das Primícias (*)
de seu Rebanho para ofertar ao Senhor, isso quer dizer que ele ofereceu aquilo
que um Cordeiro representa, e que é a mais sagrada e mais elevada das oferendas espirituais. Nem é o próprio
Abel uma pessoa real, mas o símbolo e a representação espiritual da Raça dos Profetas; da qual também Moisés era um membro,
juntamente com os Patriarcas.
“Eram, então, os Profetas, derramadores de sangue? Deus não permite; eles não tratam de coisas materiais, mas de significados espirituais. Seus Cordeiros
sem Manchas, seus Pombos brancos, suas Cabras, seus Carneiros e outros Animais
sagrados, são os muitos sinais e símbolos das diversas oferendas e agradecimentos que um povo místico deve oferecer ao Céu. Sem tais Sacrifícios, não há
Remissão dos Pecados. Mas quando o sentido místico foi perdido, então veio a matança, os Profetas abandonaram a Terra, e os Padres passaram a dominar o povo.
“Então, quando outra vez a Voz dos Profetas
se ergueu, eles se viram forçados a falar abertamente, e daclararam, em uma linguagem estranha aos seus métodos,
(p. 13)
que os Sacrifícios a Deus não são a Carne dos Touros ou o Sangue das Cabras,
mas sim os sagrados votos e ações de graça, que são os seus equivalentes místicos.
“Do mesmo modo que Deus é um espírito, também são espirituais os Seus sacrifícios. Que
tolice, que ignorância oferecer carne e bebida materiais ao puro Poder
e Ser essencial! Certamente foi em vão que os Profetas falaram, e em vão que os
Cristos se manifestaram!
3. “Por que razão considerar Adão como sendo espírito e Eva como sendo matéria, uma vez que os Livros Místicos
tratam apenas de entes espirituais? Nem o próprio Tentador é matéria, mas antes aquele que dá preferência à matéria. Adão é antes a força intelectual: ele é Terreno. Eva é a consciência moral: ela é a Mãe dos que Vivem. Então, o intelecto é o princípio masculino, e a intuição, o princípio feminino. E os Filhos da Intuição, ela própria caída,
finalmente recuperarão a verdade e redimirão todas as coisas. É por sua culpa, de fato, que a consciência moral da humanidade tornou-se sujeita à força intelectual, e que dessa forma proliferam todo o tipo de maldade e confusão, já que o desejo dela está direcionado para o intelecto e, até agora, ele
exerceu domínio sobre ela. Mas o Fim profetizado pelo Vidente não está muito
longe. Então, a Mulher será exaltada, vestida com o Sol e levada ao Trono de
Deus. E seus Filhos farão Guerra ao Dragão, e alcançarão a Vitória sobre ele. A intuição, desse modo, pura e sendo como uma Virgem, será a Mãe e a Redentora de seus
Filhos caídos, os quais ela mantinha como Escravos do seu Esposo, a Força
intelectual.”
Parte
II (1)
4. “Moisés, portanto, conhecendo os Mistérios da Religião dos egípcios, e
tendo aprendido com seus Ocultistas o valor e a significação de todos os Pássaros e
Animais sagrados, os transmitiu como Mistérios para o seu próprio Povo. Mas
alguns dos Animais sagrados do Egito ele não manteve como dignos de Honra, por motivos que eram igualmente de origem mística. Ele ensinou a seus Iniciados o Espírito dos
Hieróglifos celestiais e ordenou-lhes que quando celebrassem
(p. 14)
Festivais diante de Deus carregassem em procissão, com música e dança, aqueles dos Animais sagrados que, por suas significações interiores, estivessem relacionadas com a ocasião.
“Agora, desses Animais, ele selecionou principalmente os Machos do Primeiro Ano,
sem Mancha ou Defeito, para significar que é necessário, acima de todas as coisas, que o homem dedique ao Senhor seu intelecto e sua razão, desde o princípio e sem reserva alguma. E fica evidente
– pela história do mundo em todas as épocas, principalmente nestes últimos tempos – que ele foi
muito sábio ao ensinar isso. Pois, o que foi que levou os homens a renunciar às realidades do espírito e a propagar falsas teorias e ciências corrompidas, negando todas as coisas que não sejam a aparência que pode ser apreendida pelos sentidos externos, e desse modo a se transformar no próprio Pó da Terra? É o seu intelecto que, não estando santificado, os desviou do caminho reto; é a força da
mente neles que, estando corrompida, é a causa de sua própria ruína e da de seus seguidores.
“Então, assim como o intelecto está apto a ser o grande Traidor do Céu, assim também é ele a força pela qual os homens, seguindo sua intuição pura, podem também compreender a verdade. Por essa razão está escrito que os Cristos são submissos a suas Mães.
(1)
(*)
De modo algum isso quer dizer que o intelecto deva ser desonrado; pois ele é o Herdeiro de Todas as Coisas, desde que tão
somente ele seja verdadeiramente gerado e não um Bastardo.
5. “E, além de todos esses símbolos, Moisés ensinou seu Povo a ter, acima de todas as coisas, Repúdio à Idolatria. O que é,
então, a Idolatria e o que são os Falsos Deuses?
6. “Criar um Ídolo é materializar Mistérios espirituais. Os Padres, desse
modo, são Idólatras, os quais, chegando depois de Moisés e entregando-se a escrever aquelas coisas que ele, pela Palavra de Boca a Ouvido, tinha transmitido à Israel,
substituíram as verdadeiras coisas significadas, pelos símbolos materiais, e derramaram sangue inocente nos puros Altares do Senhor.
7. “Também são Idólatras aqueles que compreendem as coisas dos sentidos, onde tão somente as coisas do espírito estão referidas, e que escondem as verdadeiras Feições dos Deuses por meio
de representações materiais e falsas. Idolatria é materialismo, o compartilhado e original Pecado dos Homens, que substitui o Espírito pela
Aparência, a substância pela ilusão e conduz o tanto o ser moral como o intelectual, ao erro, de forma que substituem
o inferior pelo superior e o que está no Fundo
pelo que está no Alto. É o falso Fruto que atrai os sentidos externos, a Tentação da
Serpente do Começo do
(p. 15)
Mundo. (1) Até que o Homem e a Mulher Místicos tenham comido desse
Fruto, conheciam apenas as Coisas do Espírito, e as achavam suficientes. Mas
após sua Queda, começaram a apreender também a Matéria e a ela deram a
Preferência, tornando-se Idólatras. E seu Pecado, e a Mácula gerada por aquele
falso Fruto, corromperam o Sangue de toda a Raça dos Homens, de cuja Corrupção
os Filhos de Deus os teriam redimido.”
NOTAS
(11:*) N.Ed.: Essa numeração refere-se às paginas no original.
(11:**) N.Ed.: Essa
numeração refere-se aos parágrafos no original.
(11:1) Paris, 6 de junho de 1878.
Lida na madrugada, durante o sono, em uma biblioteca no mundo espiritual, que se
afirma ser a de Emmanuel Swedenborg, estando ele próprio presente, e escrita ao
acordar. Conforme posteriormente averiguamos, ela representa a doutrina daquele
famoso vidente, porém sem suas limitações. Como muitos dos escritos ali
contemplados pela vidente, este era em alemão e com ortografia arcaica e, como
no caso de diversos outros, foi dado em imediata resposta a um pedido mental de
entendimento, a respeito dos assuntos tratados, feito por mim sem o conhecimento
dela acerca de meu pedido, ou de minha necessidade, ou sem que ela mesma fosse
capaz de satisfazer o meu pedido. Ao buscarmos saber mais a respeito dessa
experiência – também de fontes transcendentais – recebemos em resposta que “uma
parte de Swedenborg ainda estava nesta esfera, pela qual ele podia comunicar-se
com aqueles com quem tinha afinidade”; e que, sob seu magnetismo, a vidente teve
condição – conforme declarado no prefácio – de recuperar essas lembranças. As
maiúsculas dos originais estão mantidos, mas a ortografia foi modernizada. E.M. [N.T.: Optamos por manter as iniciais
maiúsculas apenas nos termos caracteristicamente bíblicos ou alegóricos; e para
os demais que no original em inglês tinham inicial maiúscula, destacamos em
negrito e itálico, para, ao mesmo tempo, manter a ênfase e evidenciar o sentido
literal de seu uso.]
(12:*) N.T.: Primícias – essa é a palavra geralmente
usada nas traduções da Bíblia, a qual tem, entre outros, os seguintes
significados: primeiros frutos, primeiras produções; a primeira cria de um
animal; o primeiro resultado; primogênito.
(13:1) Essa Parte, também
recebida durante o sono, “na noite de anteontem”, é recordação de uma palestra –
evidentemente relacionada com o mesmo livro [referido na Primeira Parte] –
proferida por um homem com vestimenta de padre, em um anfiteatro de pedra
branca, para uma classe de estudantes, da qual a vidente fazia parte, e que
tomavam notas. As anotações de Anna Kingsford, é claro, “desapareceram com seu
sonho, e ela teve que reproduzi-las de sua memória. Mas essa foi ampliada de
modo fora do comum, pois ela disse que as palavras se apresentavam novamente a
ela da mesma forma em que ela escreveu, e apareciam de forma luminosa à sua
vista” (Life of Anna Kingsford, Vol. I, p. 260-261). S.H.H.
(14:1) A intuição.
(14:*) N.T.: Talvez uma das aludidas
passagens das Escrituras seja Lucas
2:51.
(15:1) Significando, “o começo do Mundo na Igreja: do mundanismo ou materialidade, isto é, na interpretação das coisas espirituais” (Life of Anna Kingsford, Vol. I, p. 261). S.H.H.
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