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(p. 9)
CAPÍTULO IV
SOBRE A REVELAÇÃO (1)
TODAS as iluminações verdadeiras e valiosas são re-véu-ações,
ou re-velações. Guarde bem o significado dessa
palavra. Não pode haver nenhuma iluminação verdadeira ou valiosa que destrua
distâncias e exponha os detalhes das coisas.
Olhe para esta paisagem. Contemple como suas montanhas e florestas estão
banhadas com suave e delicada névoa, que meio encobre e meio revela suas formas
e tons. Veja como essa névoa, como um delicado véu, envolve as distâncias e
mescla as bordas da terra com as nuvens do céu!
(p. 10)
Como ela é bela, quão ordenada e salutar a sua adequação e a delicadeza de seu
apelo aos olhos e ao coração! E quão falso seria aquele sentido que desejasse
rasgar esse véu sobreposto, para trazer para perto os objetos longínquos, e
reduzir tudo a um primeiro plano, no qual tão somente os detalhes fossem
aparentes, e todos os contornos nitidamente definidos!
A distância e a névoa fazem a beleza da Natureza: e nenhum
poeta desejaria contemplá-la de outra forma que não fosse através desse adorável
e modesto véu.
E assim como é na natureza exotérica
(exterior), assim também é na natureza esotérica (interior). Os segredos de cada
alma humana são sagrados e conhecidos apenas por ela mesma. O ego é inviolável,
e sua personalidade é de sua própria prerrogativa para sempre.
Portanto, regras matemáticas e fórmulas algébricas não podem ser forçadas no
estudo das vidas humanas; nem as personalidades humanas podem ser tratadas como
se fossem meras cifras ou quantidades aritméticas.
A alma é muito sutil, muito imbuída de vida e vontade para um tratamento como
esse.
Podemos dissecar um cadáver; podemos analisar e classificar componentes
químicos; mas é impossível dissecar ou analisar qualquer coisa viva.
No momento que ela é assim tratada ela escapa. A vida não é passível de
dissecação.
A abertura do santuário sempre o encontrará vazio: o Deus se foi.
Uma alma pode conhecer seu próprio passado, e pode ver em sua própria luz: mas
ninguém pode ver isso por ela se ela mesma não puder vê-lo.
Nisso está a beleza e santidade da personalidade.
O ego é centralizado em si mesmo e
não difuso; pois a tendência de toda evolução é na direção da centralização e da
individuação.
E a vida é tão diferenciada, tão belamente variada em sua unidade, que nenhuma
rígida formulação de lei matemática pode aprisionar sua diversidade.
Tudo é ordem: mas os elementos dessa ordem se harmonizam por meio de suas
infinitas diversidades e gradações.
Os verdadeiros mistérios sempre ficaram satisfeitos com a harmonia da natureza:
eles não buscaram arrastar distâncias para primeiros planos; ou dissipar a névoa
da montanha, em cujo âmago o sol é refletido.
Pois essas sagradas névoas são os meios da luz, e os que glorificam a
natureza.
Então a doutrina dos mistérios é verdadeiramente
re-véu-ação
– um velar
(p. 11)
e um re-velar daquilo
que não é possível ao olho contemplar sem violar toda a ordem e santidades da
natureza.
Pois
a distância e os raios visuais, causando as
diversidades de próximo e distante, de perspectiva e nuances que se fundem, de
primeiro plano e horizonte, fazem parte da ordem e seqüência naturais: e a lei
expressa em suas propriedades não pode ser violada.
Pois nenhuma lei jamais é quebrada.
Os tons e aspectos da distância e da névoa realmente podem variar e se
dissolver, de acordo com a qualidade e a quantidade de luz que cai sobre elas:
mas elas estão sempre lá, e nenhum olho humano pode anulá-las ou aniquilá-las.
Mesmo as palavras, ou até mesmo as imagens, são símbolos e véus. A própria
verdade não pode jamais ser proferida, a não ser de Deus para Deus.
NOTAS
(9:1) Em casa, 27 de novembro, 1885. Recebido durante
o sono. Referido em Life of Anna Kingsford (Vida de Anna Kingsford), vol. II, p. 246.
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