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Capítulo 1

 

 

Introdução

 

            A Esfinge Helena Blavatsky é um livro que foi escrito com o objetivo de auxiliar a desvendar um pouco do mistério que foi, e sempre será, Helena Petrovna Blavatsky (HPB). A vida de HPB foi algo tão extraordinário quanto enigmático. HPB sempre foi uma esfinge, mesmo para aqueles que com ela conviveram.

 

            De setembro de 1999 a maio de 2002 foram editados vinte números do boletim Informativo HPB, um veículo criado para a divulgação de pesquisas sobre a vida de Helena Blavatsky. Esse material constitui a base do presente livro, que reúne e complementa as informações contidas naqueles boletins.

 

            No início de 2003 esse material também serviu como subsídio histórico para José Rubens Siqueira, autor do texto da peça O Enigma Blavatsky, dirigida por Iacov Hillel e com Eliana Guttman como Helena Blavatsky.

 

            Surgiu então a ideia de apresentar ao público esse livro, para oferecer mais informações, e também novas luzes, àqueles que quiserem aprofundar os conhecimentos sobre os enigmas da vida de Helena Blavatsky.

 

            É certo que as personalidades devem estar em segundo plano em face das realizações. No caso de HPB, contudo, é importante entender melhor sua vida e alguns aspectos marcantes de sua personalidade porque são justamente esses que tornam mais difícil a compreensão da esfinge Helena Blavatsky.

 

            HPB sempre fez questão de manter alguns fatos de sua vida em segredo e de, deliberadamente, produzir incoerências e confusões acerca dos mesmos. A existência desses acontecimentos complexos têm dado origem, basicamente, a dois tipos de obras biográficas: – aquelas de seus defensores, que apenas escondem ou mencionam superficialmente os fatos polêmicos e mal compreendidos de sua vida; ou então, – aquelas biografias que a difamam e que a condenam por esses aspectos, não raro aumentados e distorcidos, chamando-a por exemplo, como fez o relatório da Sociedade de Pesquisas Psíquicas (SPR) da Inglaterra, em 1885,

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de “uma das mais perfeitas, engenhosas e interessantes impostoras na história.” (Ransom, 214)

 

            O conhecimento e compreensão desses aspectos e acontecimentos polêmicos da vida de Madame Blavatsky é que podem nos permitir vê-la como o ser humano que foi, e não como um mito do qual são suprimidos todos os defeitos e aspectos que poderiam nos escandalizar. Ao mesmo tempo, essa compreensão nos permite não deixar de reconhecer a grandeza e importância de sua vida, e de dar o devido mérito que sua imensa obra merece. Assim sendo, é sob um enfoque menos parcial – não endeusando, nem condenando – que esse estudo procura examinar muitos fatos de sua vida. O leitor julgará até que ponto isso foi alcançado.

 

            Henry Steel Olcott, seu companheiro de tantos anos e co-fundador da Sociedade Teosófica, escreveu sobre essa complexidade de HPB, que tantos procuram ocultar e outros tantos condenar:

 

“Onde houve um ser humano com uma tal mescla como essa misteriosa, essa fascinante, essa portadora da luz que é HPB? Onde podemos encontrar uma personalidade tão marcante e tão dramática; alguém que tão claramente apresentava em seus lados opostos o divino e o humano? O Carma me proíbe que eu lhe faça a mínima injustiça, mas se alguma vez na História existiu uma pessoa que foi um maior conglomerado de bem e de mal, luz e sombra, sabedoria e indiscrição, percepção espiritual e falta de bom senso, eu não posso me lembrar do nome, nem das circunstâncias ou da época. Tê-la conhecido foi uma educação muito ampla, ter trabalhado com ela e gozado de sua intimidade, uma experiência do tipo mais precioso. Ela era uma ocultista demasiado grande para medirmos sua estatura moral. Ela nos compelia a amá-la, por mais que conhecêssemos suas faltas; a perdoá-la, por mais que ela pudesse ter quebrado suas promessas e destruído nossa crença inicial em sua infalibilidade. E o segredo desse poderoso encantamento eram seus inegáveis poderes espirituais, sua evidente devoção aos Mestres, a quem ela descrevia como personagens quase supranaturais, e seu zelo pela elevação espiritual da humanidade, por meio do poder da Sabedoria Oriental. Será que veremos alguém como ela novamente? Será que em nosso tempo, a veremos novamente sob algum outro disfarce? O tempo nos dirá.” (ODL I, x)

 

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            Poucos anos após a morte de HPB a mistificação e “endeusamento” de sua imagem já estava presente no movimento teosófico em geral. Olcott, no prefácio de seu livro Old Diary Leaves (ODL), conta como recebeu ameaças e censuras por relatar facetas não muito elogiosas de Madame Blavatsky:

 

“O principal impulso para preparar esses artigos foi um desejo de combater uma crescente tendência dentro da Sociedade [Teosófica] de endeusar Madame Blavatsky e de dar às suas produções literárias mais comuns um caráter quase inspiracional. Suas evidentes faltas estavam sendo cegamente ignoradas, e a falsa cortina de uma pretensa autoridade sendo colocada entre suas ações e uma crítica legítima. Aqueles que menos gozaram de sua verdadeira confiança e, portanto, menos conheceram de seu caráter privado, eram os maiores transgressores a esse respeito. Era mais do que evidente que, a menos que contasse o que tão somente eu conhecia, a verdadeira história de nosso movimento nunca poderia ser escrita, nem os verdadeiros méritos de minha maravilhosa colega poderiam ser conhecidos. (...) Comentários confidenciais têm circulado contra mim, e os exemplares atuais do The Theosophist têm sido retirados das mesas das salas de leitura das Lojas. Isso é algo infantil: a verdade nunca prejudicou uma boa causa, nem a covardia moral jamais ajudou a uma causa ruim.” (ODL I, viii)

 

            O aspecto esfinge da vida de Madame Blavatsky, então, não se restringe às facetas polêmicas de sua personalidade. Ele também abarca os acontecimentos e os personagens que compuseram o cenário de sua vida. E é esse conjunto complexo, composto de uma personalidade e de acontecimentos polêmicos, somados aos notáveis personagens que a cercaram, que se converte em um verdadeiro “decifra-me ou te devoro”, análogo ao que deverá ser enfrentado, cedo ou tarde, por todos aqueles que procuram trilhar um caminho de elevação espiritual, como aquele que foi trilhado por Helena Blavatsky.

 

            De fato, muitos acontecimentos aqui descritos nos lembram das passagens bíblicas onde está escrito que a sabedoria do mundo é loucura para Deus e que a sabedoria de Deus é loucura para o mundo:

 

“Com efeito, a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus.

Pois está escrito:

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Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.

Onde está o sábio? Onde está o homem culto?

(...)  Deus não tornou louca a sabedoria deste século?”

(1 Cor 1:18-20)

“Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens”

(1 Cor 1:25)

“Mas o que é loucura no mundo, Deus escolheu para confundir os sábios”.

(1 Cor 1:27)”

 

            Loucura ou sabedoria, esse emaranhado controverso, de um lado, revela a existência de Grandes Seres, bem como a existência de um caminho que conduz até Eles. Porém, de outro, provoca dúvidas, suspeitas e perplexidades, as quais sempre fazem parte do caminho daqueles que procuram descobrir a verdade a respeito desses Augustos Seres. Essas perplexidades, e os sofrimentos que lhes são decorrentes, devem estar contidos nas razões pelas quais esse caminho é chamado de “PROVAÇÃO”. A passagem que segue descreve algo desse fascinante caminho:

 

“Existe uma estrada, íngreme e espinhosa, cheia de perigos de todo tipo, mas que ainda assim é uma estrada, e ela conduz ao próprio coração do Universo: posso lhes dizer como encontrar aqueles que lhes mostrarão o portão secreto que se abre apenas para dentro, e que se fecha para sempre assim que o iniciante passa. Não há perigo que uma intrépida coragem não possa conquistar; não ha provação que uma pureza imaculada não possa vencer; não há dificuldade que um intelecto forte não possa superar. Para os que vencem, a recompensa é indescritível – o poder de abençoar e salvar a humanidade; para os que fracassam, há outras vidas nas quais o sucesso pode ser alcançado.” (CW XIII, 219)

 

            Que A Esfinge Helena Blavatsky possa ser de auxílio para uma melhor compreensão desse caminho.

 

 

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