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CAPÍTULO XXIV
SOBRE O HOMEM
REGENERADO (2)
FOI dito a vocês que Jesus e aqueles semelhantes a ele
voltaram voluntariamente, e nasceram sob condições diferentes do comum, pois
eles já tinham vencido algumas das etapas de sua regeneração. Essas etapas são
doze ao todo, e constituem doze trabalhos, doze portais, ou doze pérolas, sendo
todas de igual valor. Jesus nasceu regenerado quanto a algumas dessas etapas, e
algumas das que faltavam só foram vencidas após sua “ressurreição”, durante o
retiro que culminou com sua “ascensão”.
As últimas etapas são as mais difíceis. Há quatro etapas para a alma, quatro
para o invólucro da alma (ou astral), e quatro para o corpo [físico], estas
sendo as últimas. E foi isso o que Paulo estava tão ansioso por realizar, mas
falhou. Em alguns casos o corpo nunca é redimido; mas isso não impede o
“casamento divino” da alma com o espírito. Esse casamento facilita a redenção do
corpo, mas pode acontecer sem a redenção do corpo.
Há quatro zonas ou divisões na luz astral, e o reflexo de Jesus está somente na
mais alta, e não pode ser visto por aqueles que têm acesso apenas às zonas mais
baixas. E por não ter sido fortalecido pela sombra do corpo de Jesus, o reflexo
se tornou mais fraco, de tal modo que agora é quase imperceptível. Isso porque
seu corpo foi absorvido [pela vida interior]. (*) (3)
Jesus teve uma grande vantagem em seu nascimento, devida em parte à sua condição
regenerada, e em parte àquela de seus pais. Quanto à pureza do sangue de sua
mãe, diz-se que ela veio de uma família sacerdotal. Analogamente, diz-se que seu
pai é de origem real, pois os termos “Tribo de Levi” e “Casa de Davi” têm um
significado místico. (4)
A santidade de qualquer Cristo em particular depende do
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avanço feito por ele
anteriormente a seu nascimento. Jesus tinha nesse aspecto uma vantagem sobre
Buda. Ele era regenerado em um número maior de etapas, e não teve relações
sexuais como no caso de Buda. Cada um dos Doze Trabalhos se refere a alguma
concupiscência [forte desejo], representada pela imagem de uma ave de rapina, de
um cavalo, ou de outro animal que precisa ser domado. E Jesus tinha realizado
anteriormente o Trabalho referente àquele tipo específico de concupiscência.
Agora, para alguns homens as necessidades intelectuais devem ser satisfeitas em
primeiro lugar. Esses se regeneram primeiro na mente; e depois eles alcançam o
reino.
Mas alguns começam a partir de dentro; e esses são os mais abençoados. Pois eles
buscam primeiro o reino, e o resto lhes é dado depois por acréscimo.
Esses últimos começam o Grande Trabalho no coração, por meio da afeição. E a
graça do amor atrai o Espírito Santo, e os transmuta de glória em glória, de
modo que a razão, ou mente, é subitamente iluminada pela razão interior; e no
caso deles o trabalho da regeneração é instantâneo – “em um piscar de olhos”.
Esses seguem o modelo da mulher [isto é, da alma].
Mas outros – que são do modelo masculino [isto é, da mente] – devem efetuar seu
trabalho com mais esforço; pois neles a mente é iluminada em primeiro lugar.
Eles vão do exterior para o interior; da circunferência para o centro. E isso é
apenas uma diferença de método, não de resultado final; pois a Razão é a
herdeira de todas as coisas.
Para esses últimos o Grande Trabalho é um processo lento; mas sua meta final é a
mesma que a dos primeiros. Pois quando, por fim, o divino casamento consuma seus
trabalhos, a mente e o corpo já estão redimidos, e além do poder da morte, pois
eles já têm o poder.
Mas para aqueles que se regeneram primeiro no interior, há sofrimento do corpo,
e freqüentemente morte. Pois duas correntes opostas se chocam violentamente, e a
conseqüência pode ser a forte ruptura do corpo com o espírito. E, no entanto,
suas mortes não são como as dos não regenerados. Pois no próprio choque ocorre a
transmutação: a matéria, portanto, é sublimada, e o homem não tem mais
necessidade de reencarnar. Ele é livre, pois conquistou a matéria. E, por
conseguinte, a ligação entre ele e o mundano é rompida, e ele não mais retornará
ao mundano.
Aquele que é regenerado primeiro no corpo e na mente, normalmente tem vida
longa, mesmo além do limite da vida mortal, e absorve nesse
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período [pela vida
interior] (*) todo o seu ser astral, e freqüentemente até seu corpo
físico. Assim foi com Enoch, com Elias, e com alguns
outros. Não menciono o nome deles. E Jesus ficou para fazer isso também. Pois
ele não deixaria nada por fazer, tornando-se, no final, Senhor do reino, do
poder e da glória.
Mas quando ele ressurgiu dos mortos, não tendo sofrido deterioração, nem tendo
caído sob o domínio da morte, ainda lhe faltava um degrau de regeneração a ser
vencido – ele não havia ainda “ascendido”.
Havia, então, apenas os onze; pois o décimo segundo – o “Judas” – era
imperfeito. E por causa desse Judas, Jesus caiu sob o poder da cruz.
[Judas era o símbolo de sua própria fraqueza; pois a carne, não
estando totalmente regenerada foi fraca, naquele degrau ainda não vencido.
E a regeneração de seu corpo não estando completa antes da crucificação; sua
vontade carnal ainda lutava contra a vontade espiritual, mas ainda assim ele
conseguiu falar: “Seja feita a Vossa vontade, e não a minha”.
Os Mártires que seguiram seu ensinamento foram mais corajosos diante da morte do
que Jesus, ainda que a dor tenha sido, para a maioria deles, muito mais aguda.
Mulheres sensíveis, donzelas e jovens enfrentaram sem medo e sorrindo a estaca
ou a tortura, sem lágrima ou suspiro; mas Jesus se retraiu e chorou
pesarosamente ao pé de sua cruz.
Contudo, um homem pode ser vitorioso no espírito ainda que seu corpo permaneça
não redimido. Pois essa redenção do corpo – quando totalmente
realizada – é transmutação, e seu começo é a Reconciliação [Unificação] da
vontade da carne com a vontade do espírito.]
Mas quando Jesus completou sua regeneração houve, então, mais uma vez doze.
Mas até Jesus, nenhum outro homem havia vencido essas doze etapas e o casamento
divino a partir do interior. Até então a conquista do reino havia ocorrido a
partir do exterior, pela violência e pelo esforço, segundo a maneira dos
Patriarcas.
Agora, essas doze etapas são quádruplas, para quase
todas as partes do homem: são quatro para o corpo, quatro para o astral, quatro
para a alma, mas uma para o espírito.
E até Jesus não tinha havido regeneração das doze [etapas] nessa ordem – a
partir do interior. Buda, na hora de sua morte, tinha vencido somente dez.
No caso de alguns a regeneração é quádrupla; sendo uma
etapa para cada reino, e a última para o casamento com o espírito.
No caso de outros ela é sétupla: duas [etapas] para
cada reino, e
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a sétima para o
casamento. Desse tipo foi a
regeneração da mãe e do pai de Jesus.
Mas o próprio Jesus tinha mais do que as quatro, as sete, ou as dez, pois ele
tinha as treze.
Primeiro ele tinha as quatro da alma. Junto com essas, ele nasceu com duas do
astral, e uma do corpo.
Depois, à “nona hora”, quando ele tinha vencido a quarta etapa do astral, ele
consumou o casamento divino.
Ele venceu, posteriormente, as três etapas de seu corpo, mas a última ele venceu
apenas após a “ascensão” à montanha do Senhor.
Antes dele, nenhum outro homem havia vencido desse modo. (*) E como a glória é do
Espírito, ou parte divina, diz-se (1)
que Jesus manifestou sua glória através de seu casamento [divino].
E a celebração de seu casamento foi no Jordão; mas a manifestação foi em
Caná.
Pois Jesus tinha recebido a Dupla Parte; e assim sua dupla glória. (2)
NOTAS
(65:2) Londres, 9 de Julho de 1881. Recebida
durante o sono. Ver também capítulo XXXIII.
(65:*) N.Ed.:
Possivelmente o significado de
“absorvido” seja o de que seu corpo foi “absorvido” por sua vida interior.
(65:3) Alguns ocultistas falharam em perceber o
reflexo de Jesus – uma falha aqui explicada – e com base nisso negaram sua
existência. E.M.
(65:4) Para outro e mais profundo significado da
origem ou descendência a partir de David, ver nota ao capítulo XXXVIII. E.M.
(67:8) Ver nota 65:*.
(68:*) N.T.: Ou seja,
vencido as etapas nessa ordem.
(68:1) I.e. nos Mistérios, nos quais os
Evangelhos se baseiam. E.M.
(68:2) Sobre a Dupla Parte, ver Capítulo XXXVII.
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