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(p. 42)
XII.
Mistério da Redenção, e o Cristo
como
o Supremo Resultado desse Mistério
O novo Evangelho da Interpretação
efetivamente afasta a invenção eclesiástica – não menos monstruosa do que alheia
às escrituras – que, deificando Jesus e o apresentando
como Deus, o remove da categoria de humano e o identifica com o Ser Supremo, e
representa de forma ímpia aquele Ser como morrendo na Cruz para satisfazer Sua
própria ira implacável. No entanto, isso de fato mantém e reforça o símbolo que
é sustentado pelo Sacerdotalismo como confirmação de tal doutrina. Pois ela
apresenta o Credo como um epítome da história espiritual, não de qualquer ser
individual, mas de todos aqueles que, sendo “filhos da Intuição”, se tornam, por
meio disso, “filhos de Deus”,
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e o Credo reconta os estágios daquele processo de regeneração do qual o
Cristo é a culminância, mostrando que esse processo se fundamenta na própria
natureza do ser, e está aberto, portanto, igualmente para todos os homens.
Mas, mesmo assim, não é a Jesus, o homem, que se devem honras divinas. Ele é
somente o veículo da manifestação Divina, e apenas um dentre muitos desses
veículos, a diferença entre os quais é unicamente de grau, sendo que
a natureza e a história espiritual de todos eles é a mesma. Pois, onde
quer que Deus encontre manifestação dentro e através do homem, lá, em Seu grau,
está Cristo. “Reconhecendo plenamente aquilo que Jesus foi e fez, o Novo
Evangelho da Interpretação apresenta a salvação como dependendo, não do que
qualquer homem tenha dito ou feito, mas no que Deus perpetuamente revela. Pois,
de acordo com o Novo Evangelho, a Religião não é uma coisa do passado, ou de
qualquer época em particular; mas é uma sempre presente
realidade, que ocorre a todo instante; a qual é para todo homem apenas uma e a
mesma: um processo completo em si mesmo para cada homem; e que para ele existe
independentemente de qualquer outro homem. Desse modo ele reconhece como atores,
nesse drama crucial da alma, somente duas pessoas, o próprio indivíduo e Deus.”
(1) Da mesma maneira pela qual todos os
outros homens são salvos, é salvo aquele que se tornou um Cristo. Sua função é
mostrar aos homens o caminho, tendo ele próprio aprendido esse caminho através
da experiência.
Ao fazer isso, a Nova Interpretação reconcilia a religião com a
razão, e a fé com o conhecimento, restaurando para esse fim os textos sagrados
originais a partir dos quais a própria Bíblia foi escrita, obtendo-os
diretamente da fonte primária e eterna depositária da gnose divina à qual eles
pertencem, a Hierarquia da Igreja Celestial, a qual, na plenitude da época
apontada, agora se encontra, uma vez mais, em aberta relação com a Terra.
Tal é
o caráter e a origem reivindicados pela exposição que segue do
“Mistério da Redenção”: –
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“Todas as coisas no Céu e na Terra são de
Deus, tanto as invisíveis como as visíveis.
Assim como é o invisível, também é o visível, pois não há linha divisória entre
o espírito e a matéria.
A matéria é espírito tornado exteriormente
cognoscível pela força da Palavra [ou Verbo] Divina [o].
E Deus renovará todas as coisas pelo
amor, o material se resolvendo no espiritual, e haverá um novo Céu e uma nova
Terra.
Não que a matéria venha a ser destruída, pois ela veio de Deus, e é de Deus,
indestrutível e eterna,
Mas ela se recolherá ao interior e se
resumirá em seu verdadeiro ser.
Ela afastará a corrupção, e permanecerá incorruptível.
Ela afastará a mortalidade, e permanecerá imortal.
De modo que nada seja perdido da Divina substância.
Ela era entidade material: e será entidade espiritual.
Pois não há nada que possa sair da presença de Deus.
Essa é a doutrina da ressurreição dos mortos: ou seja, a transfiguração do
corpo.
Pois o corpo, que é matéria, é apenas a manifestação do Espírito: e a Palavra
[Verbo] de Deus a transmutará em seu ser interior.
A vontade de Deus é o crisol alquímico: e a impureza que é depositada dentro
dele é matéria.
E a impureza se tornará ouro puro, sete vezes refinado – o próprio perfeito
espírito.
Ela não deixará nada para trás: mas será transformada na Divina imagem.
Pois ela não é uma nova substância: mas sua polaridade alquímica é alterada, e
ela é convertida.
Mas a menos que fosse ouro em sua verdadeira natureza, ela não poderia se
transformar no aspecto do ouro.
E a menos que a matéria fosse espírito, ela não poderia se reverter ao espírito.
Para produzir ouro, o alquimista deve ter ouro.
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Mas ele sabe ser ouro naquilo que os outros consideram impureza.
Entrega-te à vontade de Deus, e te tornarás como Deus.
Pois tu és Deus, se tua vontade for a vontade divina.
Esse é o grande segredo: é o mistério da redenção.” (1)
Mas o processo da redenção é complexo e
multifacetado, tal como é o próprio homem, e possui muitas etapas, se
constituindo numa escada. Todo esse processo, imenso como ele é, está dentro do
homem. Essa escada é ao mesmo tempo da Evolução e da Regeneração – sendo
involutiva e espiritual – por meio da qual o homem ascende “do pó do chão
ao trono do Altíssimo”, a qual tem Cristo como seu ápice. Os passos são assim
apresentados na Nova Interpretação, tendo por base a apresentação hebraica.
“Agora, os membros do microcosmo são doze: três membros são do
sentido, três da mente, três do coração, e três da consciência.
Pois do corpo há quatro elementos; e o signo dos quatro é o sentido, no qual há
três portais;
O portal da visão, o portal da audição, e o portal do tato. (2)
Renuncie à vaidade, e seja pobre: renuncie ao reconhecimento, e seja humilde:
renuncie à luxúria, e seja casto.
Ofereça
a Deus um sacrifício puro: permita que o fogo do altar
chegue a ti, e prove tua fortaleza.
Purifique tua visão, tuas mãos, e teus pés: conduza o incensório da tua adoração
aos recintos do Senhor; e que teus votos se dirijam ao Altíssimo.
E para o homem magnético (3) há quatro elementos: e a cobertura dos
quatro é a mente, na qual há três portais;
(p. 46)
O portal do desejo, o portal do trabalho, e o portal da iluminação.
Renuncie ao mundo, e aspire às coisas do céu; trabalhe,
não para a carne que perece, mas peça a Deus teu pão de cada dia: acautela-te
das doutrinas que te desviam, e permita que a Palavra [Verbo] do Senhor seja tua
luz.
A alma também possui quatro elementos: e a morada dos quatro é o coração, no
qual, do mesmo modo, há três portais;
O portal da obediência, o portal da oração, e o portal do discernimento.
Renuncie à tua própria vontade, e deixe que apenas a lei de Deus esteja dentro
de ti: renuncie à dúvida: ore sempre e não fraqueje: também seja puro de
coração, e verás a Deus.
E dentro da alma há o espírito: e o Espírito é Uno, e, no entanto, ele possui,
do mesmo modo, três elementos.
E esses elementos são os portais do oráculo de Deus, que é a arca da aliança;
O cajado, a hóstia e a lei:
A força que dissolve, e transmuta, e profetiza: o pão do céu que é a substância
de todas as coisas e o alimento dos anjos; a tábua da lei, que é a vontade de
Deus, escrita com o dedo do Senhor.
Se esses três estiverem dentro de teu espírito, então o Espírito de Deus estará
dentro de ti.
E a glória estará com o que se sacrifica,
no sagrado lugar de tua oração.
Esses são os doze portais da regeneração: através dos quais, se o homem entrar,
ele terá o direito à árvore da vida. (1)
A Nova Interpretação, contudo, não se
restringe à apresentação Hebraica. Ela reconhece a Oriental, a Egípcia e a
Grega, e ao fazer isso demonstra ao mesmo tempo a verdade da definição que torna
o Cristianismo uma síntese dos mistérios sagrados
(p. 47)
que já se encontravam no mundo, e repreende
o Sacerdotalismo cristão por ter suprimido esses mistérios, uma supressão que
tem sido feita ao ponto de acusá-los de “satânicas imitações com o objetivo de
antecipadamente desacreditar o Cristianismo.” E isso foi feito pelo
Sacerdotalismo, não obstante o reconhecimento conferido a esses mistérios por
Jesus, conforme adiante será explicado, e conforme foi explicado por São Paulo
na sua descrição de Moisés como considerando a repreensão do Cristo [Hebreus 12] como contendo riquezas
maiores do que os tesouros do Egito – uma expressão que mostra que a sabedoria
que Moisés aprendeu no Egito compreendia, e era, a doutrina do Cristo, a gnose suprimida
pelo Sacerdotalismo.
Embora descreva o próprio processo de regeneração em termos derivados dos
mistérios hebraicos, a Nova Interpretação celebra os supremos resultados daquele
processo em um ritual que pertence aos mistérios gregos – que é uma das várias
similaridades recuperadas pela Nova Interpretação. Trata-se de um hino devotado
ao “Primeiro dos Deuses”, ou o Elohim criativo, o Espírito de Sabedoria,
conforme representado por seu “Anjo”, o “Anjo do Sol”, e representante “daquela
luz que Adonai criou no primeiro dia”, sob sua designação grega de
Febo Apolo. Como se verá, este hino exala tanto
o espírito como a letra da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse,
de tal modo que indica, inequivocamente, a identidade, em substância e
origem, dos mistérios hebraicos e cristãos com os outros mistérios e escrituras
sagradas da antiguidade. E, como também veremos, seu tema é a divindade
potencial do homem como ser humano, e não a divindade exclusiva de um dado
indivíduo humano em particular.
Hino a Febo
“Forte e adorável és tu, Febo
Apolo, trouxestes vida e cura em tuas asas, coroastes o ano com tua
generosidade, e destes o espírito da tua divindade aos frutos e às coisas
preciosas de todos os mundos.
(p. 48)
Onde estaria o pão da iniciação dos filhos de Deus, se tu não tivesse feito o milho florescer, ou o vinho de seu
cálice místico, se tu não tivesse abençoado a vinha?
Muitos são os anjos que servem nas cortes das esferas celestiais: mas tu, Mestre
da Luz e da Vida, és seguido pelos Cristos de Deus.
E teu sinal é o sinal do Filho do Homem nos céus, e do Justo tornado perfeito;
Cujo caminho é como uma luz brilhante, brilhando mais e mais até a mais interna
glória do dia do Senhor Deus.
Teu estandarte é vermelho carmesim, e teu símbolo é um cordeiro
branco-imaculado, e tua coroa é de puro ouro.
Aqueles que reinam contigo são os Hierofantes dos
mistérios celestiais; pois a vontade deles é a vontade de Deus, e eles conhecem
como eles são conhecidos.
Esses são os filhos da esfera mais interna; os Salvadores dos homens, os Ungidos
de Deus.
E o nome deles é Cristo Jesus, no dia em de sua iniciação.
E diante deles todo joelho se dobrará, tanto das coisas do céu e como das coisas
da Terra.
Eles
são produto de grande tribulação, e são colocados para
sempre à direita de Deus.
E o Cordeiro, que está no meio das sete esferas, lhes dará de beber do rio da
água vivente.
E eles comerão da árvore da vida, que está no centro do jardim do reino de Deus.
Eles são teus, Ó Grande Mestre da Luz; e esse é o domínio que a Palavra [Verbo]
de Deus te designou desde o princípio:
No dia em que Deus criou a luz de todos os mundos, e separou a luz das trevas.
E Deus chamou a luz de Febo, e as trevas Deus chamou
de Píton.
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Agora, havia trevas antes da luz, como a noite antecedeu a aurora.
Esses são a noite e a manhã do primeiro ciclo dos
Mistérios.
E a glória desse ciclo é como a glória dos sete dias; e aqueles que nele habitam
são sete vezes refinados;
São os que purificaram a vestimenta da carne nas águas viventes;
E transmutaram tanto o corpo como a alma no espírito, e se tornaram virgens
puras.
Pois eles foram compelidos pelo amor a abandonar os elementos externos, e a
buscar o mais interno, que é indiviso, chegando mesmo à Sabedoria de Deus.
E Sabedoria e Amor são Unos.” (1)
NOTAS
(43:1) The Perfect
Way (O Caminho Perfeito), I, 42.
(45:1) Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), II, ix.
(45:2) O paladar e olfato sendo considerados modos de toque.
(45:3) Ou seja, a parte
magnética ou astral do homem, que é considerada uma pessoa ou sistema em si
mesmo.
(46:1)Clothed with the
Sun (Vestida com o Sol), II, v.
(49:1)Clothed with the
Sun (Vestida com o Sol), II, xi.
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