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• O Evangelho de Tomé. Brasília, 2013.

 

            Informação: A breve introdução e a tradução que seguem ainda são textos provisórios, que serão aprimorados ao longo dos próximos meses e anos, Deo volente, enquanto nossos estudos interpretativos dos 114 ditos forem avançando.

 

 

 

O Evangelho de Tomé

1-   Introdução e um Pouco de sua História (Arnaldo Sisson Filho)

2-   Tradução (Arnaldo Sisson Filho, Gilmar Gonzaga e Marcus Carvalho)

 

 

1-   Introdução e um Pouco de sua História

 

(Observação: Essa breve introdução ainda é um texto provisório, que será aprimorado ao longo dos próximos meses e anos, Deo volente, enquanto nossos estudos interpretativos dos 114 ditos forem avançando.)

 

 

O manuscrito completo do Evangelho de Tomé foi descoberto (desenterrado) em dezembro de 1945, perto do Nilo, já no Alto Egito, por dois trabalhadores rurais que procuravam por um tipo de adubo que pode ser encontrado na região.

 

Trata-se de um conjunto de cento e catorze ditos atribuídos a Jesus e seu alegado compilador, como diz o título, seria o próprio apóstolo São Tomé (Dídimo Judas Tomé), ou então, quem sabe, algum dos continuadores do trabalho de sua escola. Isso porque, se pode haver dúvida acerca da autoria do compilador dos ditos, não há dúvida de que por séculos floresceu um movimento cristão que podemos chamar de tradição ou escola de Tomé. Essa escola se localizou no norte do Oriente Médio e na Mesopotâmia, nas regiões em que hoje estão países como Síria, Turquia e Iraque, e alcançou também as terras da Índia, onde se acredita que São Tomé tenha morrido, segundo a tradição, martirizado.

 

Pelo menos na capital de Tamil Nadu (hoje chamada de Chennai, antiga Madras) temos um túmulo que se diz ser do apóstolo do Oriente. Lá também se encontra, sendo a maior colina dessa plana cidade, o Saint Thomas Mount, com sua linda vista da cidade e da parte sul de seus arredores. Como uma curiosidade para nós de língua portuquesa, ali há uma velha capela onde ainda podemos ler uma inscrição em português, quando na Índia os portugueses tinham influência, e até estabeleceram algumas colônias.

 

Na verdade, quando os portugueses “descobriram” o caminho marítimo para a Índia, por lá encontraram, talvez com surpresa, comunidades cristãs que praticavam um tipo de Cristianismo que perdurou naquelas terras desde os tempos do apóstolo do Oriente.

 

Os manuscritos que hoje são conhecidos do Evangelho de Tomé, a partir dos quais todas as atuais traduções são derivadas, foram escritos em grego (fragmentos descobertos ainda no século 19, em Oxyrhincus, Egito, onde temos apenas uma minoria dos ditos preservados), e em copta (esse que é hoje o único documento preservado com um conjunto completo dos ditos).

 

É algo digno de nota que o Evangelho de Tomé, como outros textos do Cristianismo primitivo e do Gnosticismo, cuja existência era conhecida sobretudo por menções críticas de autores que os consideraram heréticos, viessem a ser descobertos somente em meados do século 20.

 

Isso é muito interessante, uma vez que desse modo textos importantes escaparam dos censores e das interpretações que posteriormente se tornaram dominantes e que foram impostas, por vezes muito violentamente. E vieram a ser descobertos, literalmente desenterrados, quando o mundo já respirava outros ares, muito mais laicos, já sob o predomínio do pensamento científico, pelo menos nas nações globalmente hegemônicas.

 

Assim, esse texto completo do Evangelho de Tomé, junto com outros 51 livros, foi descoberto apenas em fins de 1945, dentro de uma urna ou grande jarro lacrado, enterrado em um local próximo ao rio Nilo, na altura da metade de seu percurso dentro do Egito, perto da localidade de Nag Hammâdi. Por essa razão esse conjunto de 52 livros ficou conhecido como Biblioteca de Nag Hammâdi. Essa coleção de livros está composta por textos que eram do interesse de comunidades cristãs primitivas, nesse caso, ao que parece, um mosteiro existente nas proximidades.

 

O manuscrito copta, embora uma tradução – segundo os estudiosos, muito provavelmente do grego – ao contrário dos fragmentos gregos descobertos, está supreendentemente conservado. Depois de muitas peripécias, algumas das quais que implicaram em riscos à sua preservação, esse manuscrito se encontra hoje no Museu Copta do Cairo, com cópias fotográficas em outros lugares.

 

Trata-se de um texto escrito de uma maneira muito diferente daquela dos quatro evangelhos do Novo Testamento, os quais foram escritos sob a forma de uma estória razoavelmente concatenada da vida de Jesus, com o relato de fatos supostamente históricos, tal como descritos nos quatro evangelhos que foram escolhidos para compor a Bíblia da cristandade.

 

O Evangelho de Tomé é apenas um conjunto de ditos – declarados, no início do próprio texto, como sendo eminentemente simbólicos e de difícil interpretação – em sua maioria curtos, sem um claro ordenamento, como se o compilador fosse lembrando dos ditos proferidos por Jesus e os fosse ditando ou anotando à medida que ia se lembrando desses ditos.

 

Esse estilo de texto não era incomum na época, e a sua forma era escolhida para textos que visavam demonstrar a importância dos conhecimentos ali contidos.

 

Embora seu compilador, a rigor, seja desconhecido, vários estudiosos datam a composição do manuscrito mais antigo (os fragmentos gregos) de antes do ano 200 d.C., ou até mesmo no primeiro século d.C. Assim, não há dúvidas que se trata de um texto muito antigo e, desse modo, um documento muito valioso para o conhecimento de uma forma bem primitiva de ensinamento atribuído a Jesus, e aceito e estudado por comunidades cristãs dos primeiros tempos do Cristianismo.

 

Alguns dos seus ditos guardam estreita, ou mesmo evidente, semelhança a ensinamentos e passagens dos evangelhos do Novo Testamento. Mas é importante salientar que o Evangelho de Tomé não foi baseado nesses evangelhos, tendo provavelmente se baseado em outros textos dos quais os estudiosos acreditam que os evangelhos do Novo Testamento também teriam extraído informações.

 

A forma de uma coleção de ditos é característica dos chamados “livros de sabedoria”, ou uma coleção de ditos atribuídos a sábios e, assim, contendo ensinamentos de sabedoria. Como dissemos, esse formato era comum em várias culturas da época, como a grega e a de outros povos. Um exemplo bem conhecido são os Provérbios, entre outros livros que constam do Velho Testamento.

 

A denominação de “evangelho” é algo da tradição cristã, e também evidencia que importância e sabedoria era atribuída ao texto, mesmo que diferente em sua forma escolhida.

 

O manuscrito copta é geralmente aceito como sendo uma cópia feita entre 300 e 350 d.C., e como contém algumas diferenças quando comparado à redação dos fragmentos em grego, se supõem que mais de uma cópia em grego deveria existir entre as comunidades cristãs no Egito.

 

Nesse manuscrito copta preservado não há marcas de separação entre os ditos, e a forma de escrita é como uma texto contínuo, sem separação dos ditos. Mas, como em alguns ditos dos fragmentos gregos (sabidamente mais antigos) aparecem algumas marcas de separação entre os ditos, a maioria das edições aceita a separação entre eles, e uma numeração padrão dos ditos foi estabelecida, com a qual os estudiosos concordam em praticamente todos os casos. E, assim, hoje as referências ao texto sempre usam tal numeração.

 

Como o título indica, a São Tomé (Dídimo Judas Tomé), conhecido como o apóstolo do Oriente, é atribuída a autoria do texto. A ele se credita a conversão ao Cristianismo de regiões do norte do Oriente Médio, de partes da Mesopotâmia e também de localidades da Índia. A ele também é atribuída a honra de ser considerado o “duplo” de Jesus, ou de ser seu “gêmeo”. Também a ele se atribui, pelo menos em alguns locais influenciados pela escola de Tomé, a Epístola de Judas, no Novo Testamento. Nesse texto ele é chamado de “irmão de Jesus”, uma vez que Tiago era irmão de Jesus, e ele era irmão de Tiago.

 

Há outros textos que lhe são atribuídos, ou onde Tomé aparece como personagem principal, como O Livro de Tomé e O Hino da Pérola. Esse último aparece dentro de uma obra maior, denominada de Os Atos de Tomé, onde o hino é cantado por Tomé, durante o tempo em que ele foi feito prisioneiro na Índia.

 

Ele é referido nos textos mais antigos apenas como Tomé. Mas a parte principal de seu nome é Judá, ou Judas, pois ambos são traduções da mesma grafia grega. Judas, em grego Ioudas, é uma helenização do nome hebraico Judá (יהודה, Yehûdâh), palavra que significa “louvor”, “gratidão”; “abençoado”, “louvado”; “Deus é glorificado” ou “louvor a Deus”. Já “Dídimo” e “Tomé”, mesmo que tenham sido usados como nomes, ambos significam “gêmeo”, o primeiro em grego e o segundo de aramaico (siríaco).

 

Nas comunidades cristãs primitivas que seguiam especialmente os ensinamentos do apóstolo do Oriente, Tomé era chamado claramente de “duplo” ou “irmão” de Jesus. Então, nessas comunidades pertencentes à chamada tradição de Tomé, essa temática dos “gêmeos” estava principalmente relacionada não a supostas questões de parentesco histórico-familiar, mas sobretudo com uma visão filosófico-doutrinária profunda, a qual contempla o indivíduo (o buscador, o caminhante etc.) como sendo “gêmeo” da luz divina interior, isto é, do “Jesus vivo”, conforme referido pelo próprio Evangelho de Tomé.

 

Então, o verdadeiro conhecimento de si mesmo, que tanta ênfase merece no texto do Evangelho de Tomé, bem como em outros textos dessa tradição, significava conhecer o seu “duplo” ou “gêmeo” divino, significava não menos do que o conhecimento, a participação no Reino do Pai, ou, em síntese, o conhecimento de Deus. Conhecer a si mesmo era conhecer o “Jesus vivo”.

 

Assim sendo, a condição de muita proximidade, de “gêmeo” ou “duplo”, existente entre Jesus e Tomé, é uma condição que aponta para um caminho de realização espiritual, ou de salvação na linguagem mais tipicamente cristã, o qual se dá pelo conhecimento (gnosis) do nosso “duplo” divino, do Jesus Cristo em nós, para usar a expressão das Cartas do apóstolo Paulo. Um caminho que enfatiza uma relação de discipulado vivo, ou real, bem como de auto-conhecimento.

 

Essa característica central da tradição de Tomé deve ser, pelo menos, parte da razão porque alguns estudiosos situam essa tradição e seus textos, como o Evangelho de Tomé, como estando de algum modo ligados à tradição, ou movimento religioso chamado de Gnosticismo, em especial a um de seus principais expoentes que foi Valentino e sua escola. Ou seja, a crença na íntima relação, ou mesmo unidade essencial, entre (1) o indivíduo (o caminhante, o buscador), (2) Jesus (a verdadeira luz espiritual ou inspiração divina), e (3) o Pai, ou Deus em sua dimensão maior, mais profunda e universal.

 

Contudo, há vários aspectos doutrinários importantes do Gnosticismo que não estão presentes na tradição de Tomé, o que não permite que essa escola seja definida como pertencendo ao Gnosticismo antigo ou clássico, ou à escola gnóstica de Valentino, do mesmo modo que o Evangelho de Tomé, que é um dos principais textos usados na escola de Tomé.

 

É possível, ao invés disso, devido a ser considerado por muitos especialistas como anterior ao tempo de Valentino, que o Evangelho de Tomé tenha influenciado Valentino em sua visão de um pai celestial que abarca a totalidade dos indivíduos, e que está dentro de cada um, por meio de seu filho.

 

Uma das características das obras ligadas ao apóstolo Tomé é a universalidade ou quase inexistência de sectarismo. Desse modo, também podemos supor que essa atitude também caracterizava as comunidades cristãs primitivas pertencentes à escola de Tomé, na qual o Evangelho de Tomé era certamente um dos principais textos de estudo.

 

Assim, embora diferentes em vários aspectos, o ponto que une essas escolas é que o Evangelho de Tomé  também expõe que a luz divina, ou o Reino, não é apenas algo ao qual o indivíduo deve se unir, mas é também uma realidade que já existe no momento presente, tanto fora, ao redor do indivíduo, quanto dentro dele, o que é afirmado inequivocamente em um dos ditos.

 

As obras da escola de Tomé também circulavam no Egito. Lá podem ter sido conhecidas por Valentino e o ter influenciado em sua formação inicial. Os especialistas geralmente supõe que essas obras, como o Evangelho de Tomé, tenham sido escritas em regiões que hoje correspondem à Síria, ou à Turquia, em alguma cidade como Edessa (nome histórico da cidade que atualmente se chama Urfa/Sanliurfa, situada no norte da Mesopotâmia, no sudeste da Anatólia, Turquia, próxima à fronteira norte da Síria). Há bons argumentos que apontam nessa direção, mas que não nos parece necessário mencioná-los nessa breve introdução. Tais argumentos podem ser lidos, por exemplo, na obra As Escrituras Gnósticas, de Bentley Layton. Segundo esses especialistas, as obras da escola de Tomé deveriam existir pelo menos em duas línguas: o grego e o siríaco (aramaico).

 

Voltando ao Egito, onde o manuscrito completo foi desenterrado, parece que esse texto, assim como outros dos 52 da chamada Biblioteca de Nag Hammâdi, se constituiam em preciosidades das comunidades cristãs primitivas existentes na região, pelo menos até o momento em que certas igrejas, lá pelos séculos terceiro e quarto d.C., começaram a se impor como dominantes, e já semelhantes ao que veio a ser o Cristianismo até hoje dominante.

 

Assim, já pelo terceiro século d.C. temos notícia desse evangelho sendo tachado de herético, algo que foi repetido depois com mais ênfase e violência. Isso, é claro, pode explicar porque as comunidades e mosteiros, como o das proximidades de Nag Hammâdi, já pelos princípios do século quarto d.C., tenham enterrado suas preciosidades, as quais tivessem sido consideradas heréticas, ao invés de simplesmente proceder sua destruição.

 

Dessa forma foram esses manuscritos preservados até nossos dias. Podemos supor que algo análogo (algum tipo de perseguição) tenha ocorrido com as comunidades essênias ao enterrarem os textos que se tornaram conhecidos como Manuscritos do Mar Morto. Esses foram descobertos em cavernas próximas ao Mar Morto, também próximas ao local de comunidades essênias e, muito coincidentemente, foram descobertos praticamente na mesma época. Esses manuscritos, também contém achados arqueológicos de grande importância, tanto para a cristandade em geral, como para o Cristianismo Budista em especial, uma vez que os essênios, hoje sabemos, para surpresa da ignorância geral acerca desse aspecto, eram muito influenciados pelos ensinamentos budistas.

 

Voltando aos achados das proximidades de Nag Hammâdi, no Alto Egito, depois que foram desenterrados, esses passaram por muitas aventuras que, quem sabe, algum dia inspirarão o roteiro de um bom filme.

 

Quando lemos sobre esses episódios, encontramos narrativas de mortes súbitas, disputas sangrentas pelos mesmos, e até que a apavorada mãe dos dois camponeses que encontraram os manuscritos chegou a queimar alguns dos manuscritos! Outros personagens interessantes fazem parte dessas aventuras, como um sacerdote copta, um guia de camelo, um contrabandista fora da lei e que só tinha um olho, bem como comerciantes de antiguidades em vários continentes!

 

Completando o quadro das aventuras por que passaram nossos manuscritos, que por vezes estavam divididos, algumas de suas partes estavam (além dos comerciantes de antiguidades) com estudiosos e acadêmicos, que zelozamente as guardavam, ao que parece desejosos de serem os primeiros a publicar as traduções dos principais achados. E, além disso, houve problemas políticos, tanto nacionais (do Egito), quanto internacionais, como conflitos e o bloqueio do Canal de Suez.

 

Tudo isso, entre outros fatores, atrasou a chegada ao público desses manuscritos, verdadeiros tesouros arqueológicos. Hoje eles se encontram, em segurança, no Museu Copta do Cairo, e estão traduzidos e publicados, ao alcance do público maior interessado.

 

Dentre esses manuscritos da Biblioteca de Nag Hammâdi, o Evangelho de Tomé talvez seja o mais valioso. Pelo menos para nós esse é caso devido ao seu conteúdo. Ele contém ditos ao que tudo indica do próprio Jesus, de forma muito pouco adulterada pelas distorções e idolatrias que passaram a caracterizar o Cristianismo durante quase dois milênios, e que certamente ainda o caracterizam em praticamente todas as suas vertentes até os nossos dias.

 

Segundo nossas melhores luzes, as consequências do domínio dessas distorções e idolatrias são gravíssimas para o bem estar da humanidade, uma vez que hoje ela se encontra amplamente globalizada e sob a hegemonia da chamada civilização ocidental, na qual o Cristianismo ainda desempenha papel cultural importantíssimo.

 

Assim sendo, a esperança de dias melhores, ou de soluções consistentes para os grandes problemas mundiais, mesmo que ainda distantes, passa por um resgate de uma visão filosófico-religiosa na qual os símbolos das bíblias do mundo sejam bem interpretados, muito especialmente a Bíblia cristã, devido à hegemonia cultural do Ocidente e sua civilização. Esse fato tão importante procuramos mostrar, de forma mais analítica e detalhada, em nossos escritos sobre o Evangelho da Interpretação e sobre o Cristianismo Budista (A Roda e a Cruz: Uma Introdução ao Cristianismo Budista).

 

Por essa razão decidimos estudar esse importante texto cuidadosamente. Iniciamos por fazer, segundo nossas melhores luzes, uma tradução que nos pareça confiável, a fim de que possamos mais tranquilamente encarar o trabalho de interpretação dos 114 ditos. Trabalho ao qual nos dedicaremos,“pianamente”, ao longo dos próximos anos e com uma atitude experimental.

 

Ou seja, aceitamos o desafio dessa tarefa como um teste para a capacidade interpretativa do Evangelho da Interpretação (o conjunto dos ensinamentos sobre o verdadeiro Cristianismo que nos foram trazidos pela Dra. Anna Kingsford e Edward Maitland). Nessa tarefa estaremos amparados também por nossos estudos em busca de um Budismo não idólatra, por nossos conhecimentos de religião, filosofia e ciência comparados e, não menos importante, estaremos amparados por uma postura mental prudente, tolerante e abrangente, que acreditamos ser uma qualidade central, ou essencial da visão-ensinamento do primeiro “passo” do Nobre Óctuplo Caminho, que nos foi legado pela tradição budista (samaditta: reto pensar).

 

Mesmo assim, cabe dizer que se escolhemos esse texto, o Evangelho de Tomé, para essa parte de nossos trabalhos ligados à “Roda e Cruz”, certamente não foi sem acreditarmos que ele possa ser uma “árvore que dá bons frutos”. Pelo pouco que hoje conhecemos desse evangelho, os ditos ali contidos tratam da questão da busca pela verdade espiritual e seus bons frutos de uma forma simbólica profunda e difícil de ser compreendida pela quase totalidade dos interessados caminhantes-buscadores.

 

Há nesses ditos uma qualidade de simplicidade, de originalidade e algo de surpreendente, que nos propõe um caminhar-buscar tanto com perseverança e confiança, quanto com humildade e seriedade, nesse esforço de compreender os ditos em profundidade.

 

Muito provavelmente, as pessoas ligadas às visões, crenças e interpretações hoje dominantes do Cristianismo não serão atraídas por um desafio desse tipo. Já acreditam possuir “a verdade, o caminho e a vida”.

 

Porém, deve haver alguns poucos que sintam e vejam que o Cristianismo como está é parte dos grandes problemas que a humanidade hoje enfrenta, mas que também sintam que deve haver algo de verdadeiro nessa tradição, que inspirou tantos místicos, que trouxe jóias culturais, como o canto gregoriano, a iconografia, e que repetiu (mesmo com pouco viver) que devemos fazer aos outros como desejamos que façam para nós, e que, como dissemos, mal ou bem, ou melhor, mal e bem, ainda hoje é um dos fundamentos na base da civilização ocidental, cuja força cultural e econômica domina amplamente o planeta, para o bem e para o mal.

 

E, portanto, deve haver uns poucos que se sintam motivados a buscar a essência dessa tradição, o “Jesus vivo”, tanto fora de nós, quanto dentro de nós, como uma imperiosa necessidade de nossos dias, sem qualquer desmerecimento, muito ao contrário disso, pelas demais tradições filosófico-religiosas do Oriente e do Ocidente, ou da contribuição trazida pela lógica experimental da ciência, que hoje domina as mentes dos mais instruídos, com seus aspectos sadios e doentios, ou seja, também para o bem e para o mal.

 

Lembremos, para concluir essa introdução, que o Mestre Jesus viveu em uma região e numa cultura onde havia tanto a religião judaica de muitos de seus seguidores e ouvintes, quanto uma cultura maior, dominante, pela qual a religião judaica estava envolvida, e que também influenciava muito pesadamente a grande maioria dos seus ouvintes e seguidores. Uma cultura que podemos chamar de helenística, em sentido amplo. Isso pode nos auxiliar na interpretação de alguns conceitos usados pelo Mestre, uma vez que seus termos e conceitos mais profundos são derivados do grego, e a entender porque o Evangelho de Tomé em copta, não apenas foi traduzido do grego, porém também manteve palavras gregas ao tratar de seus principais ensinamentos.

 

Ao mesmo tempo que trazemos a público nossa tradução (feita por Gilmar, Marcus e por mim, em versão que consideramos preliminar), elevo o pensar ao Pai-Mãe, no Alto e dentro de nós, como na Oração dos Eleitos trazida pela Dra. Kingsford, almejando que nos abençoe, proteja e inspire em nossos trabalhos futuros, nos fortalecendo como a seus verdadeiros Filhos, segundo nos dedicarmos à elevação de nossos irmãos.

 

Om mani padme hum. Christi simus non nostri.

 

 

 

 

Evangelho de Tomé

 

2-   Tradução

 

(Observação: Do mesmo modo que a introdução acima – essa tradução feita por Arnaldo, Gilmar e Marcus – ainda é um texto provisório, que será aprimorado ao longo dos próximos meses e anos, Deo volente, à medida que nossos estudos interpretativos dos 114 ditos forem avançando.)

 

 

Palavras Iniciais (Incipit)

            Estes são os ditos ocultos que Jesus, o vivo, proferiu e que foram transcritos por Dídimo Judas Tomé. (“Dídimo” e “Tomé” significam “gêmeo” em grego e em siríaco ou aramaico: didymos e tã’mã)

 

Dito 01.

            Ele disse: “Quem encontrar a interpretação (ou o sentido oculto) destes ditos não provará a morte.”

 

Dito 02.

            Jesus disse: “Aquele que busca não deve parar de buscar até que encontre. Quando encontrar ficará surpreso, e quando estiver surpreso se maravilhará e terá domínio sobre a totalidade.” (“e terá domínio sobre a totalidade”: em vez disso o fragmento grego encontrado em Oxirrinco, Egito, traz: “[e] estando maravilhado terá domínio; e [tendo domínio], irá [repousar]”. As últimas palavras estão apenas parcialmente preservadas no fragmento grego)

 

Dito 03.

            Jesus disse: “Se vossos líderes vos disserem: ‘o Reino (de Deus) está no céu’, então os pássaros do céu estarão mais próximos. Se vos disserem: ‘o Reino está no mar’, então os peixes estarão mais próximos. Mas o Reino está dentro e está fora de vós.

            Quando vos tornardes conhecidos de vós mesmos (ou “conhecerdes a vós mesmos”), então sereis reconhecidos. E compreendereis que sois filhos do Pai vivo. Mas se não vos tornardes conhecidos de vós mesmos, então estais na penúria, e vós sois a penúria.” (o frag. grego tem: “[Aqueles que] se tornam conhecidos de [si mesmos] o encontrarão; [e quando vós] vos tornardes conhecidos de vós mesmos, [compreendereis isso]”)

 

Dito 04.

            Jesus disse: “Um homem maduro não hesitará em perguntar a uma criancinha de sete dias a respeito do lugar da vida. E esse homem viverá. Pois muitos que são os primeiros serão os últimos e eles se tornarão um só.”

 

Dito 05.
            Jesus disse: “Conhece o que está diante da tua vista (diante dos teus olhos, ao alcance da tua percepção), e o que está oculto te será revelado. Porque não há nada oculto que não venha a ser revelado.” (o frag. grego em seguida tem: “e nada enterrado que [não será elevado]”.)

 

Dito 06.
            Seus discípulos lhe perguntaram e disseram: “Queres que jejuemos? Como devemos orar? Devemos dar esmolas? Que regime alimentar devemos observar?”
            Jesus disse: Não mintais, e não façais o que odiais, porque todas as coisas estão claras diante do céu (o frag. grego tem: “diante da verdade”). Pois não há nada oculto que não venha a ser revelado, e não há nada encoberto que permanecerá sem ser descoberto.”
 

Dito 07.

            Jesus disse: “Bem-aventurado é o leão que é devorado pelo homem, de modo que o leão se torna homem. Infeliz é o homem que é devorado pelo leão, e o leão ainda se torna homem.”

 

Dito 08.
            E Ele disse: “O homem é como um pescador sábio que lança a rede ao mar e puxa a rede cheia de peixes pequenos. Entre eles o sábio pescador descobre um bom peixe grande. Então, o pescador joga todos os peixes pequenos de volta ao mar e sem qualquer hesitação guarda o peixe grande. Aquele que tiver ouvidos para ouvir, ouça!”

 

Dito 09.
            Jesus disse: “Escutai: um semeador saiu, tomou um punhado de sementes e as lançou. Algumas caíram no caminho e vieram os passarinhos e as comeram. Outras caíram sobre a rocha, não deitaram raízes no solo e assim não produziram grãos. Outras caíram nos espinhos e eles sufocaram as sementes e os vermes as devoraram. Outras caíram em terra boa e produziram boa safra, umas deram sessenta por medida e outras cento e vinte por medida.”

 

Dito 10.

            Jesus disse: “Lancei fogo sobre o mundo e vede, eu o vigio até que ele (o mundo) arda em chamas.”

 

Dito 11.

            Jesus disse: “Este céu passará, e o que está acima dele passará. O mortos não estão vivos, e os vivos não morrerão. Durante os dias em que comestes o que está morto, fizestes com que voltasse à vida. Quando estais na luz, o que fareis? No dia em que fostes um, vos tornastes dois. Mas quando vos tornardes dois, o que fareis?

 

Dito 12.

            Os discípulos disseram a Jesus: “Sabemos que nos deixareis. Quem então será o nosso lider?”

            Jesus lhes respondeu: “Não importa aonde estejais, devereis ir a Tiago o justo, quem [conhece as razões porque] o céu e a terra vieram a existir.” (segundo tradição antiga, Tiago era irmão de Jesus e, portanto, de Tomé. Tiago foi líder da primeira comunidade cristã em Jerusalém)

 

Dito 13.

            Jesus disse a seus discípulos: “Comparai-me com alguma coisa e dizei-me a quem me pareço.” Simão Pedro disse: “Te pareces com um mensageiro (anjo) de retidão (correto).” Mateus disse: “Te pareces a um sábio filósofo.” Tomé disse: “Mestre, minha boca não permite, em absoluto, dizer com quem te pareces.” Jesus disse: “Não sou teu mestre, porque bebestes, estás ébrio da fonte borbulhante que eu marquei.” Então ele o pegou, afastou-se, e lhe disse três ditos. Quando Tomé voltou para seus companheiros, eles lhe perguntaram: “O que Jesus te disse?” Tomé lhes disse: “Se eu vos disser um dos ditos que ele me disse pegareis pedras e me apedrejareis, e sairá fogo das pedras e vos queimareis.”

 

Dito 14.

            Jesus lhes disse: “Se jejuardes, trareis pecado sobre vós. Se orardes, sereis condenados. Se derdes esmolas, prejudicareis vossos espíritos. Quando fordes a qualquer localidade e andardes de lugar em lugar, e as pessoas vos receberem, comam o que vos servirem e curem os enfermos entre eles. Pois aquilo que entra em vossa boca não vos prejudicará, é aquilo que sai de vossa boca que vos prejudicará.”

 

Dito 15.

            Jesus disse: “Quando virdes alguém não nascido de mulher, prostrai-vos com o rosto ao chão, e O adorai: Aquele é vosso Pai.”

 

Dito 16.

            Jesus disse: “Talvez as pessoas pensem que é a paz que vim lançar sobre o mundo. Eles não sabem que vim lançar disputas sobre a terra: fogo, espada e lutas. Pois, havendo cinco numa casa, três ficarão contra dois, e dois contra três, pai contra filho, e filho contra pai; e eles permanecerão como solitários.”

 

Dito 17.

            Jesus disse: “Vos darei aquilo que jamais os olhos viram, os ouvidos ouviram, as mãos tocaram, nem jamais despontou (verdadeiros alcançar, compreender, conceber, conhecer, descobrir, encontrar, nascer) no coração (mente) do homem.”

 

Dito 18.

            Os discípulos disseram a Jesus: “Fale-nos sobre o fim.”

            Jesus disse: “Então, já descobristes sobre o começo, de modo que buscais pelo fim? Pois onde está o começo estará o fim. Bem-aventurado aquele que permanece no começo: esse conhecerá o fim e não provará a morte.”

 

Dito 19.

            Jesus disse: “Bem-aventurado é aquele que era (que veio a ser) antes de existir.

            Se vos tornastes meus discípulos e escutais minhas palavras, estas pedras vos servirão (vos ministrarão).

            Pois, na verdade, há para vós cinco árvores no Paraíso; elas não mudam no verão ou no inverno, e suas folhas não caem. Aquele que as conhecer não provará a morte.”

 

Dito 20.

            Os discípulos disseram a Jesus: “Dize-nos com o que se assemelha o Reino dos Céus?”

            Ele lhes disse: “Assemelha-se a uma semente de mostarda. [Ela] é menor do que as outras sementes, mas quando cai em solo preparado, torna-se uma enorme planta e abriga os pássaros do céu.”

 

Dito 21.

            Maria disse a Jesus: “Com o que se assemelham teus discípulos?”

            Ele disse: “Eles se assemelham a crianças que vivem em um campo que não é delas. Quando os donos da terra chegam, lhes dizem: ‘Devolvam-nos nosso campo.’ EIas ficam nuas em sua presença, e lhes devolvem o seu campo.

            Por isso digo, se o proprietário de uma terra sabe que está chegando um ladrão, ficará de vigia antes que chegue o ladrão, e não deixará que o ladrão entre na casa de sua propriedade e roube suas posses.

            Vós, portanto, ficai em guarda contra o mundo. Preparai-vos com grande força, de modo que os bandidos não possam encontrar um caminho para chegar até vós; pois os problemas que esperais virão. Que haja dentre vós uma pessoa de entendimento!

            Quando a safra fica madura, aquela pessoa vem rapidamente, trazendo uma foice, e a colhe. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça!”

 

Dito 22.

            Jesus viu umas criancinhas mamando. Ele disse a seus discípulos: “Essas criancinhas que estão mamando se assemelham aos que entram no Reino.”

            Eles lhe disseram: “Então entraremos no reino sendo criancinhas?”

            Jesus lhes disse: “Quando do dois fizerdes um, quando fizerdes o interno como o externo e o externo como o interno, e o que está acima como o que está embaixo, e quando fizerdes o macho e a fêmea serem um só, de modo que o macho não seja macho nem a fêmea seja fêmea, quando fizerdes olhos em lugar de um olho, mão em lugar de uma mão, pé em lugar de um pé, e imagem em lugar de uma imagem, então entrareis [no Reino].

 

Dito 23.

            Jesus disse: “Vos escolherei um entre mil e dois entre dez mil, e permanecereis como um só.

 

Dito 24.

            Seus discípulos disseram: “Mostre-nos o lugar onde estais, pois devemos buscá-lo.”

            Ele lhes disse: “Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça! Há luz dentro de uma pessoa de luz, e sua luz ilumina o mundo todo. Se ela não brilhar, há escuridão.”

 

Dito 25.

            Jesus disse: “Ama teu irmão como tua alma; o proteja como a pupila de teus olhos.”

 

Dito 26.

            Jesus disse: “Vedes o cisco no olho do vosso irmão, mas não vedes a viga em vosso próprio olho. Quando tirardes a viga do vosso próprio olho, vereis com clareza suficiente para remover o cisco do olho de vosso irmão.”

 

Dito 27.

            Jesus disse: “Se não vos abstiverdes (jejuardes) do mundo, não encontrareis o Reino. Se não observardes o Sabbath como um Sabbath (nas raízes semíticas: cessar, repousar, ver) não contemplareis (vereis) o Pai.”

 

Dito 28.

            Jesus disse: “Assumi meu lugar diante do mundo. E para eles me manifestei encarnado (na carne, em carne e osso). Encontrei-os todos embriagados. E não encontrei nenhum deles com sede. Minha alma se compadeceu pelos filhos da humanidade, pois eles estão cegos em seus corações e não podem ver. Vazios vieram ao mundo, e também vazios eles procuram sair do mundo. Contudo, por enquanto eles estão embriagados. Quando se libertarem do seu vinho, então mudarão seus corações (se arrependerão, se converterão).”

 

Dito 29.

            Jesus disse: “É algo maravilhoso se a carne veio à existência por causado espírito. Mas se o espírito [veio à existência] por causa da carne, é uma maravilha das maravilhas. Contudo, quanto a mim, fico maravilhado pelo modo como essa grande riqueza veio habitar nesta pobreza!”

 

Dito 30.

            Jesus disse: “Onde houver três seres divinos, eles são divinos. Onde houver dois ou um, eu estou com aquele.”

 

Dito 31.

            Jesus disse: “Nenhum profeta é bem aceito em sua própria vila; nenhum médico cura aqueles que o conhecem.”

 

Dito 32.

            Jesus disse: “Uma cidade construída em uma alta colina e fortificada não pode cair. Nem pode ser escondida.”

 

Dito 33.

            Jesus disse: “Aquilo que ouvirdes em vosso ouvido, proclamai aos outros ouvidos do alto dos vossos telhados. Pois ninguém acende uma lâmpada e a coloca sob um cesto, nem a coloca em um lugar escondido. Antes, ela é colocada em um lampadário de modo que todos que entram e saem vejam sua luz.”

 

Dito 34.

            Jesus disse: “Se um cego conduzir outro cego, ambos cairão no poço.”

 

Dito 35.

            Jesus disse: “Não se pode entrar na casa de um homem forte e tomá-la pela força sem antes atar suas mãos. Então é possível revistar sua casa.”

 

Dito 36.

            Jesus disse: “Não vos preocupeis, desde a manhã até a noite e da noite até a manhã, com aquilo que ireis vestir.” (no frag. grego temos: “[que alimento] vós [comereis], [ou] que [roupa] vestireis. [Sois muito] melhor do que os [lírios], que não cardam nem tecem. E quanto a vós, o que [vestireis] quando não tiverdes nenhuma roupa? Quem acrescentaria à vossa estatura? É ele que vos dará a vossa roupa.”)

 

Dito 37.

            Seus discípulos disseram: “Quando te revelarás para nós e quando te veremos?” (no frag. grego: “Quando serás visível para nós, e quando te contemplaremos?”)

            Jesus disse: “Quando vos despirdes (ficardes nus) sem sentir vergonha, e tirardes vossas roupas e as puserdes sob vossos pés e as pisoteardes como criancinhas, então vereis o Filho do Vivo (Daquele que Vive) e não tereis medo.”

 

Dito 38.

            Jesus disse: “Muitas vezes desejastes ouvir estas palavras que vos digo. E não tendes ninguém mais de quem ouvi-las. Haverá dias em que me buscareis e não me encontrareis.”

 

Dito 39.

            Jesus disse: “Os fariseus e os escribas (eruditos) tomaram as chaves do conhecimento e eles as esconderam. Não entraram, nem pemitiram que aqueles que queriam entrar entrassem. Quanto a vós, sede tão astutos como as serpentes e tão inocentes como as pombas.”

 

Dito 40.

            Jesus disse: “Uma videira foi plantada separada do Pai. Mas como não é forte e saudável, será arrancada pelas raízes e perecerá.”

 

Dito 41.

            Jesus disse: “Aqueles que possuam (lit. “em suas mãos”), mais lhes será dado, e aqueles que não possuam, mesmo o pouco que tenham lhes será tirado.”

 

Dito 42.

            Jesus disse: “Sede passantes.” (Particípio do verbo grego paragein, “ir passando por alguma coisa ou alguém")

 

Dito 43.

            Seus discípulos lhe disseram: “Quem sois vós para nos dizerdes estas coisas?”

            [Jesus lhes disse:] “Não entendeis quem sou eu a partir daquilo que vos digo? Com efeito, vos tornastes como muitos judeus, pois eles amam a árvore mas odeiam seus frutos, ou eles amam os frutos mas odeiam a árvore.”

 

Dito 44.

            Jesus disse: “Aquele que blasfemar contra o Pai será perdoado, aquele que blasfemar contra o Filho será perdoado, porém aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem na terra nem no céu.”

 

Dito 45.

            Jesus disse: “Uvas não são colhidas nos espinheiros, nem figos são apanhados nos abrolhos, pois eles não dão frutos. As pessoas boas geram bondade a partir do que juntaram (guardaram, estocaram); as pessoas más produzem coisas más a partir da perversidade que juntaram em seus corações, e daí dizem coisas más. Pois a partir daquilo que transborda de seus corações elas geram o mal (coisas más).”

 

Dito 46.

            Jesus disse: “Desde Adão até João Batista, entre aqueles nascidos de mulheres, nenhum é maior do que João Batista, de modo que seus olhos não baixem (diante dele). Mas tenho dito que aquele dentre vós que se tornar uma criança conhecerá o Reino e se tornará maior do que João (Batista).”

 

Dito 47.

            Jesus disse: “Uma pessoa não pode montar dois cavalos ou vergar dois arcos, e um servo não pode servir dois mestres, pois honrará um e ofenderá o outro. Ninguém bebe vinho velho e imediatamente deseja beber vinho novo. Vinho novo não é derramado em velhos odres, pois eles podem se romper, e vinho velho não é derramado em um odre novo, pois ele pode estragar. Um velho remendo não é costurado em uma roupa nova, uma vez que ele pode rasgar.”

 

Dito 48.

            Jesus disse: “Se dois fizerem as pazes um com o outro numa mesma casa, eles dirão a uma montanha: ‘mude-se (mova-se) para outro lugar’ – e ela se mudará.”

 

Dito 49.

            Jesus disse: “Bem-aventurados aqueles que são solitários e eleitos (ou “os solitários e as pessoas eleitas”), porque encontrareis o Reino. Pois do Reino viestes, e para lá outra vez retornareis.”

 

Dito 50.

            Jesus disse: “Se vos disserem: ‘De que lugar viestes (de onde sois)?’, dizei-lhes: ‘Viemos da luz – do lugar onde a luz veio à existência por si mesma, se estabeleceu (em repouso), e se manifesta na imagem deles.’ (ou “às imagens deles”)

            Se vos disserem: ‘Quem sois vós?’, dizei: ‘Somos sua prole (seus filhos), e somos os escolhidos do Pai vivo.’

            Se vos perguntarem: ‘Qual é o sinal do vosso Pai dentro de vós?’, dizei-lhes: ‘É movimento e repouso.’”

 

Dito 51.

            Seus discípulos disseram-lhe: “Quando o repouso dos mortos terá lugar, e quando o mundo novo chegará?”

            Ele lhes disse: “O que aguardais já veio, mas vós não o reconheceis.”

 

Dito 52.

            Seus discípulos disseram-lhe: “Vinte e quatro profetas ministraram em lsrael, e todos eles falaram de ti.”

            Ele lhes disse: “Tendes descuidado [Aquele] Vivo que está em vossa presença, e tendes falado dos mortos.”

 

Dito 53.

            Seus discípulos lhe disseram: “A circuncisão beneficia ou não?”

            Ele lhes disse: “Se ela beneficiasse, os pais das pessoas as gerariam de suas mães já circuncidadas. Antes, é a verdadeira circuncisão em espírito que torna-se beneficente sob todos os aspectos.”

 

Dito 54.

            Jesus disse: “Bem-aventurados [os pobres], pois vosso é o Reino dos céus.”

 

Dito 55.

            Jesus disse: “Aquele que não odeia pai e mãe não pode ser meu discípulo, e aquele que não odeia seus irmãos e irmãs e não toma sua cruz como eu não será digno de mim.”

 

Dito 56.

            Jesus disse: “Aquele que chegou a conhecer o mundo descobriu um cadáver, e o mundo não é digno daquele que descobriu tal cadáver.”

 

Dito 57.

            Jesus disse: “O Reino do Pai se assemelha a um homem que tinha [boa] semente. Seu inimigo veio de noite e espalhou sementes de erva daninha junto da semente boa. O homem não deixou que arrancassem a erva daninha, dizendo: ‘Não o façais por receio de que, ao arrancar a erva daninha, arranqueis o trigo juntamente com ela. Assim, no dia da colheita, a erva daninha ficará aparente e será arrancada e queimada.’”

 

Dito 58.

            Jesus disse: “Bem-aventurado aquele que sofreu (trabalhou) e encontrou vida.”

 

Dito 59.

            Jesus disse: “Que o vosso olhar esteja voltado para o Vivo enquanto estiverdes vivo, de outro modo podereis morrer e então tentar ver o Vivo e não sereis capazes de vê-Lo.”

 

Dito 60.

            [Ele viu] um samaritano indo para a Judéia, carregando um cordeiro. E disse aos seus discípulos: “[Porque está] essa pessoa [carregando] o cordeiro?”

            Eles lhe disseram: “A fim de o matar e o comer.”

            Ele lhes disse: “Ele não o comerá enquanto estiver vivo, mas somente quando o matar e ele se tornar um cadáver.”

            Eles disseram: “De outro modo ele não pode fazer isso.”

            Ele lhes disse: “Assim também com vós, procurai um lugar de repouso (pausa, descanso) para vós mesmos, para que não vos torneis uma cadáver e sejais comidos.”

 

Dito 61.

            Jesus disse: “Dois repousarão num sofá: um morrerá, o outro viverá.”

            Salomé disse: “Quem és tu, ó homem? Subistes em meu sofá e comestes da minha mesa como se fossemos um.”

            Jesus lhe disse: “Eu sou aquele que vem daquilo que não é dividido. Foram-me dadas das coisas de meu Pai.” [...]

            Salomé disse: “Eu sou tua discípula.” [...]

            [Jesus disse:] “Porisso digo, uma pessoa assim, não dividida (inteira, íntegra, integrada) tornar-se-á cheia de luz, mas uma pessoa dividida tornar-se-á cheia de trevas.”

 

Dito 62.

            Jesus disse: "Revelo meus mistérios àqueles [que são dignos] de [meus] mistérios. Que vossa mão esquerda não saiba o que vossa mão direita está fazendo."

 

Dito 63.

            Jesus disse: “Havia um homem rico que tinha muito dinheiro. Ele disse: ‘Investirei minha riqueza a fim de semear, colher e armazenar, até encher meus celeiros de mantimentos, para que nada me falte.’ Tais eram as coisas que pensava em seu coração, porém naquela mesma noite ele morreu. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça!”

 

Dito 64.

            Jesus disse: “Um homem recebia hóspedes de fora. Tendo preparado a ceia, enviou seu servo para convidar outras pessoas. O servo foi ao primeiro e disse: ‘Meu senhor vos convida’. Esse lhe disse: ‘Alguns atacadistas me devem; eles virão esta noite e terei de dar-lhes instruções. Agradeço o convite para o jantar’. + O servo foi a outro e disse: ‘Meu senhor vos convida’. Esse disse ao servo: ‘Comprei um imóvel, e estou ocupado nessa ocasião. Não posso ir’. O servo foi até um outro e disse: ‘Meu senhor vos convida’. Esse disse ao servo: ‘Um amigo está se casando e vou oferecer o jantar. Não posso ir, tenho de declinar o convite’. O servo foi a mais outro e disse: ‘Meu mestre vos convida’. Esse disse ao escravo: ‘Comprei uma vila; tenho que receber aluguéis. Não posso ir. Tenho de agradecer o convite’. O servo veio e disse a seu senhor: ‘As pessoas que convidastes para a ceia agradeceram o convite e declinaram’. O senhor disse ao servo: ‘Anda pelas ruas; convida os que encontrares para o jantar’. Compradores e comerciantes não entrarão nos lugares de meu Pai.”

 

Dito 65.

            Ele disse: “Um homem [de posses, que emprestava dinheiro] tinha uma vinha e a entregou nas mãos de arrendatários para que a cultivassem, de modo que pudesse obter um rendimento. Ele enviou seu servo para que os cultivadores dessem o rendimento da vinha ao servo. Eles o agarraram, surraram e quase mataram o servo, e esse foi e falou para seu senhor. Seu amo disse: ‘Talvez eles não o [o servo] reconhecessem’, e enviou outro servo. Os cultivadores bateram no outro servo. Depois disso, o proprietário enviou seu filho e disse: ‘Talvez respeitem meu filho’. Os cultivadores reconhecendo que era o herdeiro da vinha, o agarraram e o mataram. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça!”

 

Dito 66.

            Jesus disse: “Mostrai-me à pedra rejeitada pelos construtores: essa é a pedra angular.”

 

Dito 67.

            Jesus disse: “Aquele que conhece todas as coisas, mas está carente dentro de si mesmo, está carente de todas as coisas.”

 

Dito 68.

            Jesus disse: "Bem-aventurados sereis quando odiados e perseguidos. Que não se encontre o lugar onde quer que tenhais sido perseguidos."

 

Dito 69.

            Jesus disse: “”Bem-aventurados são aqueles que foram perseguidos (até mesmo) em seus corações: eles são verdadeiramente os que chegaram a conhecer o Pai. Bem-aventurados os que têm fome (a fim de saciar os famintos), pois a barriga daquele em necessidade pode ser preenchida.”

 

Dito 70.

            Jesus disse: “Se manifestardes aquilo que está dentro de vós, aquilo que tendes (dentro de vós) vos salvará. Se não tiverdes (aquilo) dentro de vós, aquilo que não tendes vos matará.”

 

Dito 71.

            Jesus disse: “Destruirei [esta] casa, e ninguém poderá construí-la [novamente].”

 

Dito 72.

            Uma [pessoa disse] a ele: “Diga a meus irmãos que dividam suas posses comigo.”

            Ele disse à pessoa: “Homem, quem fez de mim um repartidor?”

            Voltou-se para seus discípulos e lhes disse: “Não sou um repartidor, sou?”

 

Dito 73.

            Jesus disse: “A messe (safra, colheita) é grande mas os operários são poucos, assim, pedi ao senhor da colheita que envie operários para os campos.”

 

Dito 74.

            Ele disse: “Senhor, há muitos em volta (nas proximidades) do bebedouro, mas ninguém na cisterna (poço).”

 

Dito 75.

            Jesus disse: “Há muitos em pé diante da porta, mas somente aqueles que estão sós entrarão na câmara nupcial.”

 

Dito 76.

            Jesus disse: “O Reino do Pai se assemelha a um negociante que tinha um estoque de mercadoria e soube da existência de certa pérola. Esse mercador era perspicaz, vendeu toda a mercadoria e comprou a única pérola.

            Vós, também, buscai aquele tesouro que não falha, que é duradouro, lá onde a traça não se aproxima para roer e (onde) nenhum caruncho vem para destruir.”

 

Dito 77.

            Jesus disse: “Eu sou a luz que está sobre todos. Eu sou a totalidade. De mim tudo veio, e é para mim que tudo se expande. Rachai um pedaço de madeira, lá estou eu. Levantai uma pedra, lá me encontrareis.”

 

Dito 78.

            Jesus disse: “Por que saístes para o campo? Para verdes um junco balançando ao vento? E para verdes alguém vestido de roupas finas [como vossos] governantes e vossos homens no poder? Eles usam finas roupas, mas não podem compreender a verdade?”

 

Dito 79.

            Uma mulher na multidão lhe disse: “Bem-aventurados são o ventre que te abrigou e os seios que te alimentaram.”

            Ele [lhe] disse: “Bem-aventurados são aqueles que ouviram a palavra do Pai e que verdadeiramente a guardaram. Pois haverá dias em que direis: ‘Bem-aventurados são o ventre que não concebeu e os seios que não amamentaram.’”

 

Dito 80.

            Jesus disse: “Aquele que veio a conhecer o mundo descobriu o corpo, e o mundo não é digno daquele que descobriu o corpo.” (Este dito é quase idêntico ao de nº 56, que iguala o mundo a um “cadáver”, ptõma, em grego, em vez de corpo, tosõma, em grego.)

 

Dito 81.

            Jesus disse: “Aquele que se tornou rico deve reinar, e aquele que tem poder deve renunciar [a ele].”

 

Dito 82.

            Jesus disse: “Aquele que está perto de mim está perto do fogo, e aquele que está longe de mim está longe do Reino.”

 

Dito 83.

            Jesus disse: “As imagens estão manifestadas aos seres humanos. Mas a luz dentro delas permanece velada na imagem da luz do Pai. O Pai será revelado, mas sua imagem permanecerá velada por sua luz.”

 

Dito 84.

            Jesus disse: “Quando vedes vossa semelhança (como num espelho) ficais exultantes. Mas quando conhecerdes vossas imagens que vieram à existência antes de vós, e nem morrem nem se tornam visíveis, quanto mais tereis de vivenciar (suportar)!”

 

Dito 85.

            Jesus disse: “Adão veio (à existência) a partir de um grande poder e de uma grande riqueza, mas ele não foi digno de vós. Porque, se tivesse sido digno (de vós), não teria morrido (provado a morte).”

 

Dito 86.

            Jesus disse: “[As raposas têm] suas tocas e as aves têm seus ninhos, mas o filho do homem não tem um lugar para deitar-se e repousar.”

 

Dito 87.

            Jesus disse: “Infeliz é o corpo que depende de um corpo, e infeliz é a alma que depende desses dois.”

 

Dito 88.

            Jesus disse: “Os mensageiros e os profetas virão até vós e vos darão aquilo que a vós pertence. De vossa parte, dai a eles o que tendes, e dizei a vós mesmos: ‘Quando virão eles e tomarão aquilo que a eles pertence?’”

 

Dito 89.

            Jesus disse: “Por que lavais o exterior da taça? Não percebeis (compreendeis) que o que fez o interior é também o que fez o exterior?”

 

Dito 90.

            Jesus disse: “Vinde a mim, pois meu jugo é fácil e minha autoridade (ou “senhorio”, a relação entre senhor e escravo) é suave, e encontrareis repouso para vós mesmos.”

 

Dito 91.

            Eles lhe disseram: “Dize-nos quem és, para que creiamos em ti.”

            Ele lhes disse: “Examinais a face do céu e da terra, e não reconheceis aquele que está diante de vós, e não conheceis como examinar o tempo presente.” (ou “esse tempo de crise”, no grego: kairos)

 

Dito 92.

            Jesus disse: “Buscai e encontrareis. No passado, no entanto, não vos respondi algumas coisas que me perguntastes. Agora estou querendo vos falar (responder) tais coisas, mas não as estais buscando.”

 

Dito 93.

            [Jesus disse:] “Não deis o que é sagrado aos cães, pois eles podem jogá-lo no lixo. Não jogueis pérolas [aos] suínos, eles podem desperdiçá-las na lama.”

 

Dito 94.

            Jesus [disse]: Aquele que busca, encontrará, e para aquele [que bate] lhe será aberto.”

 

Dito 95.

            [Jesus disse]: “Se tendes dinheiro, não o empresteis cobrando juros. Antes, dai [o dinheiro] àquele que não o devolverá.”

 

Dito 96.

            Jesus [disse]: “O Reino do Pai se assemelha a [uma] mulher que tomou uma pequena porção de fermento, o [misturou] na massa, e produziu grandes pães. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça!”

 

Dito 97.

            Jesus disse: “O Reino do [Pai] se assemelha com uma mulher que estava levando um [jarro] cheio de farinha. Enquanto ela viajava por uma estrada distante, a alça do jarro se quebrou e a farinha foi se derramando atrás dela [pela] estrada. Ela não se deu conta do acidente que tinha acontecido. Quando chegou em sua casa, baixou o jarro e descobriu que ele estava vazio.”

 

Dito 98.

            Jesus disse: “O Reino do Pai se assemelha a um homem que queria matar um homem poderoso. Enquanto estava em sua casa, ele puxou a espada e a cravou na parede, para saber se sua mão estaria forte o suficiente. Então, ele foi e matou o homem poderoso.”

 

Dito 99.

            Os discípulos lhe disseram: “Vossos irmãos e vossa mãe estão esperando lá fora”.

            Ele lhes disse: “Aqueles aqui que cumprem a vontade de meu Pai são meus irmãos e minha mãe. Eles são os que entrarão no Reino de meu Pai.”

 

Dito 100.

            Eles mostraram a Jesus uma moeda de ouro e lhe disseram: “Os homens de César estão nos cobrando impostos.”

            Ele lhes disse: “Dai a César aquilo que pertence a César, dai a Deus aquilo que pertence a Deus, e dai-me aquilo que a mim pertence.”

 

Dito 101.

            [Jesus disse:] “Aquele que não odeia [pai] e mãe como eu não pode ser meu [discípulo], e aquele que [não] ama [pai e] mãe como eu não pode ser meu [discípulo]. Pois minha mãe [me deu ilusão], porém minha verdadeira [mãe] me deu vida.”

 

Dito 102.

            Jesus disse: “Ai dos fariseus. Pois eles são como um cão dormindo na manjedoura do gado, porque ele nem come nem [deixa] o gado comer.”

 

Dito 103.

            Jesus disse: “Bem-aventurados aqueles que sabem por onde os ladrões vão entrar, de modo que possam se preparar, reunir suas forças (armas), e estarem prontos antes que os ladrões cheguem.”

 

Dito 104.

            Eles disseram a Jesus: “Vamos, rezemos hoje, e jejuemos.”

            Jesus disse: “Qual o pecado que cometi, ou em que fui derrotado? Antes porém, quando o noivo sair da câmara nupcial, então, que as pessoas jejuem e orem.”

 

Dito 105.

            Jesus disse: “Aquele que conhece o pai e a mãe será chamado de filho de uma prostituta.”

 

Dito 106.

            Jesus disse: “Quando fizerdes do dois apenas um, vos tornareis crianças da humanidade; e quando disserdes: ‘Montanha, mova-se daqui!’, ela se moverá.”

 

Dito 107.

            Jesus disse: “O Reino é semelhante a um pastor que tinha cem ovelhas. Uma delas, a maior, se extraviou. Ele deixou as noventa e nove e procurou por ela até que a encontrou. Depois de seu esforço, ele disse à ovelha: ‘Eu te amo mais do que às noventa e nove’.”

 

Dito 108.

            Jesus disse: “Aquele que bebe da minha boca tornar-se-á como eu; eu mesmo me tornarei tal pessoa, e os mistérios lhe serão revelados.”

 

Dito 109.

            Jesus disse: “O Reino é como um homem que tinha um tesouro escondido em seu campo mas não sabia. Quando ele morreu, deixou o campo para seu [filho]. O filho não sabia [do tesouro]. Ele recebeu o campo e o vendeu. O comprador ao arar o campo [descobriu] o tesouro, e começou a emprestar dinheiro a juros a todos que desejou emprestar.”

 

Dito 110.

            Jesus disse: “Aquele que encontrou o mundo e tornou-se rico, que ele renuncie ao mundo.”

 

Dito 111.

            Jesus disse: "Para aquele que estiver vivo a partir do Vivo os céus e a terra se abrirão e ele não conhecerá nem morte nem [temor]. O mundo não é digno daquele que encontrou a si mesmo."

 

Dito 112.

            Jesus disse: “Infeliz da carne que depende da alma. E pobre da alma que depende da carne.”

 

Dito 113.

            Seus discípulos disseram: “Quando virá o Reino?”

            [Jesus disse:] “Ele não virá por ser esperado. Não se dirá: ‘Vejam, (o Reino) está aqui’. Ou, ‘vejam, (o Reino) está lá’. Em vez disso, o Reino do Pai está espalhado pela terra, mas as pessoas não o vêem.”

 

Dito 114.

            Simão Pedro lhes disse: “Que Maria nos deixe, pois as mulheres não são dignas da vida.”

            Jesus disse: “Vede, vou orientá-la para que se torne masculina, a fim de que ela também se tome um espírito vivo semelhante a vós, homens (machos). Pois todo (elemento) feminino (ou, toda mulher) que se faz masculino (ou, macho) entrará no Reino dos Céus.”

 

 

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